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Santa Dulce, missionária dos pobres

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“Crianças, brinquem apenas aqui pela área!”. “Cuidado para não se machucar!”. Os pequenos obedecem aos tutores do Projeto Social João de Deus e aos instintos de uma felicidade imparável.

É grande a sombra que os cobre. A sombra de uma árvore gigantesca no pátio da Paróquia Nossa Senhora dos Alagados e São João Paulo II. A sombra de um Salvador feito homem na capital baiana. A sombra da Santíssima Trindade – o Pai e o Filho e o Espírito Santo – que desde o Céu uniu um trio de santos no alto das águas aterradas da Cidade Baixa: Santa Dulce dos Pobres, São João Paulo II e Santa Teresa de Calcutá.

Não são pequenos os sonhos que edificam as ruas da Grande Salvador. Os sonhos de uma gente pioneira em ecoar sua voz pelos becos do subúrbio, pelas famosas pedras-sabão do Pelourinho e pelas palafitas que construíram o passado, e que no passado ficaram com suas madeiras e reforçadas, assim como o título que foi dado à primeira capital do Brasil e logo depois substituído para duas outras cidades.

“Deus faz coisas que a gente não entende”, refletem os 78 anos de José Lima dos Santos. Anos que reavivam os olhares capturados pela alma, daqueles que o coração guarda em forma de lembranças. A visão de fora nota o azul que o céu e o mar vestem sob a luz de um meio de dia, as casas que desde o morro se enfileiram em uma procissão de vidas, o bem e o mal de guarita no canto da rua, a Igreja do Bonfim nos bons fins do horizonte e a graça do brincar das crianças, cheias de uma alegria mais vibrante que o sol. Dezenas delas têm reforço escolar pela manhã ou à tarde no Projeto, lanches e refeições, além de incentivos e atividades proporcionadas de forma gratuita pelos voluntários.

Foram nos anos 1960 que, em busca de emprego e moradia com os pais e a família, os pés retirantes do jovem José sentiram o balançar das pontes de madeira dos Alagados. Sobre essas uma freira franzina fez a sua missão de Igreja em Saída por várias décadas na pobre e esquecida comunidade. Quase sessenta anos se passaram para José, saído dos entornos de Santo Antônio de Jesus e do Recôncavo Baiano. Caíram as pontes de madeira nas águas do ontem. Levantaram-se as terras e as ruas. Um interminável vaivém no terminal de histórias velhas e novas.

“A primeira coisa que temos a falar de Irmã Dulce é que ela viveu isso aqui, mas não foi só aqui, porque ela passou também pelo bairro da Massaranduba. Ela ia pedir nas ruas e, às vezes, alguém negava. Mas 99% das vezes doavam. Ela ia na Feira do Mercado São Joaquim, feira livre, e todo mundo sabia que ela estava pedindo. Aí o cara ia com o balaio na cabeça, com fruta”. A vida simples, a santidade, as catequeses pelas casas, o cuidado com os doentes, o amor ao próximo, as mãos de algodão. A lista de José Lima se infinita ao tocar no nome de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, ou Irmã Dulce. “Eu não percebia que um dia essa mulher seria uma santa venerada nos altares”, contempla o baiano.

“Zezito do Uruguai” é a graça depositada sobre a identidade do senhor de sorriso largo e de pés que nunca perderam o apoio sobre as frágeis palafitas nem sobre as desafiadoras veredas da vida. O Uruguai que não é país, mas sim bairro de Salvador, e que pelas recordações de Seu Zezito recebeu esse nome após a vitória do vizinho contra o Brasil em alguma Copa do Mundo que o tempo ainda faz questão de narrar. Diante dos olhos de um repórter se vê o famoso Zezito de um Uruguai que retrata o Brasil de fé, de altos e baixos, de mil realidades e de valores preciosos. Ele é o homem que reúne amigos de todas as partes do mundo, o esposo da Maria, o incansável missionário que ama servir a Deus através da Pastoral do Turismo e sobre a intercessão entronizada no Apostolado da Oração.

“Eles foram exemplos de missão e exemplos para toda a humanidade”, pontua o homem que contemplou ainda vivos os três santos venerados no mundo todo, bem na parte do Uruguai afetada por alagamentos que hoje não se veem mais. Na manhã chuvosa de 07 de julho de 1980 celebrou-se a missa de inauguração da Paróquia Nossa Senhora dos Alagados. Zezito bem se lembra da tempestuosa chuva que acolheu Vossa Santidade àquele dia e manifesta uma das maiores conclusões a que os seus vividos anos o permitiram chegar: “É só mais um sinal de que aqui deveria se chamar Alagados”.

O sino toca o alarme da 1 da tarde e ressoa uma frase no coração de José Lima: “Minha vida é assim: simplesmente um pedacinho de papel”. Cada dia escreve uma nova história no capítulo da vida de Zezito, enquanto uma mesma narrativa de fé é semeada no coração dos fiéis de perto e de longe que surgem, assinam o livro de visitas e mergulham na santidade do Anjo Azul dos Alagados.

“Esta obra não é minha. É de Deus. E o que é de Deus permanece para sempre”. As palavras de Dulce se materializam em caridade pelas paredes no Santuário em sua homenagem e escapam tão distantes, a ponto de ultrapassarem a Avenida Dendezeiros do Bonfim e os corações que visitam o Anjo Bom da Bahia todo mês, mais de 50 mil pessoas. 

No complexo do Santuário – composto pela área interna do templo, o Dulce Café, a Loja e o Memorial - uma sala circular chama a atenção, e mais ainda o que está ao centro dela: o túmulo que guarda os restos mortais da Mãe dos Pobres. Ex-votos, testemunhos de curas, fitinhas de Santa Dulce dos Pobres, agradecimentos e imagens católicas erguem a Capela das Relíquias com a fé do povo devoto e o corpo da santa vinda ao mundo em 26 de maio de 1914.

Santa Dulce dos Pobres se fez pobre pela caridade nas feridas da pobreza material e humana. Enxergou-as quando ninguém as via. As escaras ela buscou cicatrizar com o seu amor velado de fé. Enxergou o cuspe em suas mãos como um simples fiasco de saliva, nada do que julgam como humilhação. Foi então que enxergou o Amor. Foi então que enxergou Deus. Foi então que disse ao feirante do gesto desrespeitoso do cuspe: “Esse foi para mim. Agora eu peço para os meus pobres”. E de repente alguém mais a enxergou, e mais alguém no infinito somar dos olhares, dos dias e dos anos soteropolitanos. Quando viram, Irmã Dulce já era referência em escala global.

Diante de um simples galinheiro, ela enxergou um enorme hospital, o maior da Bahia, fundado em 1959 e nominado Santo Antônio, este que era uma das maiores devoções do Anjo Bom em forma de religiosa. Ronaldo dos Santos Castro tinha apenas 18 anos quando pela primeira vez visitou o hospital fundado pela baiana. Estava acompanhado por um diácono e jovens católicos. Hoje, trinta anos depois, ele exerce o trabalho de supervisor do Memorial Irmã Dulce.

Ronaldo não chegou a ver a Irmã Dulce em vida, como muitos de seus conterrâneos baianos, que a enxergavam no dia a dia da cidade, com visão nítida e clara. Mas eis que com os olhos do coração o supervisor diariamente vê aquela pequena e gigante mulher, venerada por milhares de corações.

“Falar de Irmã Dulce é algo inesgotável. Cada vez mais a gente acaba descobrindo coisas, valores, através de depoimentos, através de relatos, e a gente vai descobrindo esse universo inesgotável que é a Irmã Dulce. Eu não sei tudo dela. Eu aprendo a cada dia”. As origens da voz de Ronaldo se enraízam nas veredas dos Alagados, comunidade em que ele aprendeu a dar os primeiros passos já em ruas aterradas, não mais em palafitas. Comunidade em que os seus pais e avós enxergaram a docilidade de Dulce caminhar sobre improvisadas pontes acima das águas.

Por mais de quinze anos o rosto de Santa Dulce pôde ser contemplado bem de perto pelos olhos pernambucanos e peregrinos que caminham pelo Santuário em mais um dia de missão. Essa é uma das principais graças que a Irmã Olívia resguarda como relíquia do tempo em que está como religiosa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

Junto ao hábito branco feito pelas próprias irmãs da comunidade, ao anel com o símbolo da Cruz de Cristo e à medalha com a Imaculada Conceição e a Eucaristia, Irmã Olivia se veste da certeza de que as muitas graças recebidas por Irmã Dulce se deviam ao fato de esta estar sempre disponível e aberta para o Senhor. “Ela via Jesus em cada pobre que ela atendia. Ela não tinha nojo de abraçar, como São Francisco de Assis abraçou o leproso. O testemunho que Irmã Dulce deixou pra gente é muito grande. Se cada pessoa do nosso país buscasse viver um pouquinho do exemplo dela, o mundo ia melhorar. Um exemplo de serviço, de ajuda às pessoas, de humildade. Ela não tinha nada e fez muito, e às vezes quem tem muito não faz”.

As impressões guardadas na memória reavivam a imagem de Irmã Dulce, desde 1977 a 1992, em quinze anos de amizade entre elas, pelas linhas do tempo debutante em que a fé se torna sólida. Em Pernambuco foram os anos da infância de Irmã Olívia, em São Paulo os da adolescência e na Bahia os de uma juventude totalmente dedicada à Congregação, a começar dos 18 anos.

“Eu vim de São Paulo pra Salvador com as irmãs. Entrei no aspirantado, fui estudar no colégio das irmãs em Capela, Sergipe, e quando eu tava pra terminar o postulantado, a mestra veio pra Salvador, pra gente conhecer o hospital de Irmã Dulce aqui. Eu era postulante. Quando eu cheguei aqui, Irmã Dulce estava no galinheiro, atendendo o povo lá, os pacientes. Aí tinha trinta alunas. Todo mundo com a mesma roupa, igual. Primeiro contato com ela. Ela tava de aventalzinho, roupa branca. Eu senti uma emoção muito grande, comecei a chorar, aí Irmã Dulce olhou pra todo mundo, olhou pra mim, puxou meus cabelos e disse assim: ‘Você vem ficar comigo’”, comenta Irmã Olívia.

A sua amiga e nova mestra usava o escudo da oração constantemente como a maior prioridade. Irmã Olívia contempla a tamanha força que via na pequena Dulce, que mesmo com problemas de saúde trabalhava incansavelmente na Obra e que passava noites inteiras em profunda oração. Daqueles anos iniciantes na missão, Irmã Olívia recorda-se a confissão que fazia a si mesmo e a Deus: “Muitas vezes eu fiquei até com vergonha de mim, dizendo: ‘Meu Deus, eu tão jovem ainda. Irmã Dulce chega da rua e vai trabalhar, e eu já tão cansada’”.

É através de Dulce que aprendera desde sempre: “E quanto mais a gente dá, mais a gente tem a força de Deus. E se ela saía pra rua, ela ia rezando também o terço. Ensinava pras pessoas. Os turistas que chegavam aqui, ela perguntava se rezavam. Ela tinha essa preocupação não só com o material, mas também com o espiritual, que é isso que nós devemos pensar, colocar em primeiro lugar, a parte espiritual do nosso coração. Estar com o nosso coração sempre puro, limpo, para que Deus possa fazer morada e que a gente possa receber as graças”.

Quando as missões com o Santuário de Santa Dulce se abrandam, Irmã Olívia acompanha os mais de 2 mil pacientes que passam diariamente Hospital Santo Antônio e os visita sempre que possível, levando-lhes palavras de sabedoria e gestos de caridade. Pacientes vindos da capital e do interior, que viajam por longas horas e que, ao saírem do ambulatório, preferem seguir para a igreja à espera de um transporte. É nos braços de Santa Dulce que se sentem acolhidos. Além do hospital de Salvador e pelas outras seis unidades de saúde administradas pela Obra, espalhadas pela Bahia, mais de 3 milhões de pacientes são assistidos anualmente e mais de 7 mil funcionários atuam em mais de quarenta especialidades médicas e outros serviços.

“Estou sempre atenta a servir. Não me canso. Estou buscando servir como ela servia”, pontua a Irmã. Enxergar no outro a imagem e semelhança de Deus e de um tão querido amigo é a lição que a religiosa partilha com todo o mundo. No baú de memórias recorda-se de quando Santa Dulce chegava ao meio-dia cansada em casa, porém disposta a ver os seus pobres ao invés de almoçar.

Como no dia em que dois pacientes com limitações físicas não dispunham de boas cadeiras de rodas para se locomoverem e uma Kombi buzinou, trazendo duas cadeiras novas e embaladas. Foi então que com o olhar e a voz o Anjo Bom da Bahia registrou no coração de Irmã Olívia palavras que ela jamais esqueceu: “Irmã, nunca devemos negar nada a um pobre”. A providência de Deus traz ao coração da senhora muito mais histórias que se entrelaçam com as de Irmã Dulce, aquela que sempre escolhia o último banco na Capela Santo Antônio para orar e que desperta até os dias de hoje uma profunda admiração em Irmã Olívia.

Quem foi Santa Dulce dos Pobres

 

Segundo as Obras Sociais Irmã Dulce, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador/Bahia. Segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes, professor da Faculdade de Odontologia, e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, o bebê veio ao mundo na Rua São José de Baixo, 36, no bairro do Barbalho, na freguesia de Santo Antônio Além do Carmo. A menina Maria Rita foi uma criança cheia de alegria, adorava brincar de boneca, empinar arraia e acompanhar partidas de futebol. Era torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time formado pela classe trabalhadora e os excluídos sociais.

Aos sete anos, em 1921, perde sua mãe Dulce, que tinha apenas 26 anos e em 1922 faz a primeira comunhão na Igreja de Santo Antônio Além do Carmo. Aos 13 anos, graças a seu destemor e senso de justiça, traços marcantes revelados quando ainda era muito jovem, Irmã Dulce passou a acolher moradores em situação de rua e doentes em sua casa, transformando a residência da família, localizada no bairro de Nazaré, em centro de atendimento.

A casa ficou conhecida como ‘A Portaria de São Francisco’, tal o número de carentes que se aglomeravam à sua porta. Também é nessa época que ela manifesta pela primeira vez, após visitar pessoas pobres com uma tia, o desejo de se dedicar à vida religiosa.

Em 08 de fevereiro de 1933, logo após a sua formatura como professora, Maria Rita entra então para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Em 13 de agosto de 1933, recebe o hábito de freira das Irmãs Missionárias e adota, em homenagem à sua mãe, o nome de Irmã Dulce.

A primeira missão de Irmã Dulce como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, em Salvador. Mas, o seu pensamento estava voltado mesmo para o trabalho com os pobres.

Já em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de Itapagipe. Nessa mesma época, começa a atender também os operários que eram numerosos naquele bairro, criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia.

Em 1937, funda, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações – o Cine Roma, o Cine Plataforma e o Cine São Caetano. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugura o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.

Irmã Dulce e o Papa João Paulo II voltariam a se encontrar em 20 de outubro de 1991, na segunda visita do Sumo Pontífice ao Brasil. João Paulo II fez questão de quebrar o rigor da sua agenda e foi ao Convento Santo Antônio visitar a religiosa baiana, cuja saúde já se encontrava bastante debilitada em função de problemas respiratórios. Cinco meses depois da visita do Papa, os baianos chorariam a morte do Anjo Bom do Brasil.

Irmã Dulce morreu em 13 de março de 1992, pouco tempo antes de completar 78 anos. No velório, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador, políticos, empresários e artistas se misturavam à dor de milhares de pessoas simples e anônimas. A fragilidade com que viveu os últimos trinta anos da sua vida – com 70% da capacidade respiratória comprometida - não a impediu de construir e manter uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país, uma verdadeira obra de amor aos pobres e doentes.

O processo de canonização

 

A causa da Canonização de Irmã Dulce foi iniciada em janeiro de 2000. Em abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as virtudes heroicas da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente a concessão do título de Venerável à religiosa. O título é o reconhecimento de que Irmã Dulce viveu, em grau heroico, as virtudes cristãs da fé, esperança e caridade. Já em outubro de 2010, a Congregação para a Causa dos Santos, através de seu colégio de cardeais e bispos, atestou a autenticidade do primeiro milagre atribuído a Irmã Dulce, cumprindo, dessa forma, a última etapa do processo de beatificação.

O PRIMEIRO MILAGRE E A BEATIFICAÇÃO – O referido milagre ocorreu na cidade de Itabaiana, em Sergipe, quando, após dar à luz seu segundo filho, Gabriel, em 11 de janeiro de 2001, Cláudia Cristiane Santos Araújo sofreu uma forte hemorragia durante dezoito horas, tendo sido submetida a três cirurgias na Maternidade São José. Diante da gravidade do quadro, o obstetra Antônio Cardoso avisou à família que apenas “uma ajuda divina” poderia salvar a vida de Cláudia.

Em desespero, a família da miraculada chamou o padre José Almí para ministrar a unção dos enfermos. O padre, no entanto, decidiu fazer uma corrente de oração pedindo a intercessão de Irmã Dulce e deu a Cláudia uma pequena relíquia da freira. A hemorragia cessou subitamente. O caso de Cláudia foi analisado por dez peritos médicos brasileiros e seis italianos. Segundo o médico Sandro Barral, um dos integrantes da comissão científica que analisou o milagre, “ninguém conseguiu explicar o porquê daquela melhora, de forma tão rápida, numa condição tão adversa”.

O milagre passou por três etapas de avaliação: uma reunião com peritos médicos (que deram o aval científico), com teólogos e, finalmente, a aprovação final do colégio cardinalício, tendo sua autenticidade reconhecida em todos os estágios. Já no dia 10 de dezembro de 2010, o Papa Bento XVI autorizou a promulgação do decreto do primeiro milagre.

Irmã Dulce foi então beatificada no dia 22 de maio de 2011, em cerimônia realizada no Parque de Exposições de Salvador, reunindo mais de 70 mil pessoas. Na ocasião, a freira baiana foi coroada como a primeira beata nascida na Bahia e passou a se chamar Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, tendo o dia 13 de agosto como data oficial de celebração de sua festa litúrgica. Faltava apenas a validação de um segundo milagre para que a religiosa fosse então canonizada.

O SEGUNDO MILAGRE E A CANONIZAÇÃO – No dia 13 de maio de 2019, o Papa Francisco promulgou um decreto reconhecendo a autenticidade de um segundo milagre atribuído à intercessão de Irmã Dulce, cumprindo-se assim a última etapa do processo de Canonização da beata baiana. Este se deu com a cura da cegueira de José Maurício Moreira aos 50 anos.

Natural de Salvador, o músico Maurício, aos 22 anos, teve o diagnóstico de um glaucoma muito sério, descoberto tardiamente e já em estado avançado. O tratamento, que durou dez anos, não foi suficiente para impedir que o nervo ótico – responsável pela comunicação com o cérebro – fosse destruído. Desse modo, na virada do ano de 1999 para 2000, ele ficou totalmente cego de ambos os olhos e assim permaneceu por 14 anos.

Em 2014, já morando em Recife, Maurício teve uma conjuntivite muito grave e, sofrendo com fortes dores, pegou a imagem de Irmã Dulce que pertencera a sua mãe, a colocou sobre os olhos e, com muita fé, fez uma oração pedindo a intercessão do Anjo Bom pelo alívio das dores da inflamação. Ao despertar, Maurício percebeu então que tinha voltado a enxergar.

O segundo milagre validado pelo Vaticano também passou por três etapas de avaliação: uma reunião com peritos médicos (que deram o aval científico), com teólogos, e, finalmente, a aprovação final do colégio cardinalício, tendo sua autenticidade reconhecida de forma unânime em todos os estágios. Uma graça só é considerada milagre após atender a quatro pontos básicos: a instantaneidade, que assegura que a graça foi alcançada logo após o apelo; a perfeição, que garante o atendimento completo do pedido; a durabilidade e permanência do benefício e seu caráter preternatural (não explicado pela ciência).

A cerimônia de Canonização de Irmã Dulce aconteceu no dia 13 de outubro de 2019, no Vaticano, presidida pelo Papa Francisco. Oficialmente, ela passou a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres, tendo como data litúrgica o dia 13 de agosto. A freira, conhecida como o Anjo Bom da Bahia, se tornou a primeira santa nascida no Brasil e sua canonização é a terceira mais rápida da história (27 anos após seu falecimento), atrás apenas do Papa João Paulo II (9 anos após sua morte) e de Madre Teresa de Calcutá (19 anos após o falecimento da religiosa).

No dia 14 de outubro foi realizada a primeira missa em honra à santa, na Igreja Sant’Andrea della Valle, localizada na praça Vidoni, em Roma. Já no dia 20 de outubro, em Salvador, aconteceu a primeira celebração no Brasil pela Canonização de Irmã Dulce, na Arena Fonte Nova, evento que reuniu mais de 50 mil pessoas. A programação cultural e religiosa na capital baiana contou com apresentações musicais, espetáculo teatral e missa presidida pelo Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger.

Obras Sociais Irmã Dulce

 

Instituição filantrópica de fins não econômicos, as Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) abrigam atualmente um dos maiores complexos de saúde com atendimento totalmente gratuito do Brasil, com cerca de 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais realizados por ano na Bahia. Entre o público atendido pela OSID estão pacientes oncológicos, idosos, pessoas com deficiência e com deformidades craniofaciais, crianças e adolescentes em situação de risco social, dependentes de substâncias psicoativas, pessoas em situação de rua e demais usuários do Sistema Único de Saúde. Foi fundada em 26 de maio de 1959.

Para ajudar a manter vivo o legado de amor e serviço de Santa Dulce, é possível fazer doações em prol das Obras Sociais Irmã Dulce através do PIX: amigos@irmadulce.org.br; ou pelo site da Campanha Um Milhão de Amigos para Santa Dulce: www.1milhaodeamigossantadulce.org.br; ou ainda ligando para a Central de Relacionamento com o Doador, no telefone +55 (71) 3316-8899, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h30.

A OSID mantém também o Programa Sócio-Protetor, uma das mais importantes fontes de recursos da instituição voltadas à manutenção das atividades em prol da população mais carente. Para obter mais informações e se cadastrar no programa de fidelização, basta acessar o site www.irmadulce.org.br/socioprotetor e seguir o passo a passo.

Também é possível ajudar a instituição doando através da conta de energia, a partir de uma parceria entre a OSID e a Neoenergia Coelba. O cliente que desejar fazer uma doação mensal para a entidade deve entrar em contato com a Central de Relacionamento com o Doador (CRD) das Obras, através do telefone +55 (71) 3316-8899, e fornecer o número da conta contrato de sua residência. As doações serão inseridas nas faturas, sinalizando o valor que o cliente se dispôs a doar mensalmente.

A OSID conta também com o Projeto Adote uma Turma, que funciona a partir do apoio financeiro às atividades desenvolvidas pelo Centro Educacional Santo Antônio (CESA) – unidade de educação das Obras Sociais Irmã Dulce que acolhe mais de 900 crianças e adolescentes em situação de risco social, oferecendo ensino do primeiro ao nono ano, além de acesso a arte-educação, atividades esportivas, assistência odontológica e psicossocial, alimentação, fardamento e material escolar gratuitos. As empresas e pessoas físicas que desejem adotar uma turma através das doações mensais ao centro educacional da OSID podem solicitar o regulamento do programa através do e-mail marketing@irmadulce.org.br ou ligando para o telefone +55 (71) 3310-1341.

Fotos: Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) e Luiz Felipe Bolis

Texto: Luiz Felipe Bolis e apoio da OSID

 
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