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Sínodo: um caminho de simplicidade e despojamento

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Rui Saraiva – Portugal

O processo sinodal inaugurado pelo Papa Francisco em outubro de 2021 entrou no final do passado mês de outubro numa nova dinâmica. Com a publicação do Documento para a Etapa Continental (DEC) é aprofundado o movimento da Igreja em processo de discernimento coletivo, de participação, de encontro, de escuta e de diálogo.

 

Ecoar a voz do Povo de Deus

 

Após ter sido recolhido o contributo de 112 conferências episcopais, de 15 Igrejas Orientais Católicas, de 17 dicastérios da Cúria Romana e de tantos movimentos, associações, pessoas singulares e grupos, a Secretaria Geral do Sínodo propõe uma leitura do caminho realizado e das reflexões produzidas através das sínteses sinodais.

O texto agora apresentado faz “ecoar a voz do Povo de Deus de todas as partes do mundo”. O documento agora publicado assinala que os participantes no processo sinodal pedem mais transparência na vida da Igreja e denuncia “uma cultura clerical” que “isola as pessoas e fragmenta as relações entre sacerdotes e leigos”.

Por isso, é proposto aprofundar o encontro e o diálogo em caminho sinodal “cuja finalidade não é produzir documentos, mas abrir horizontes de esperança para o cumprimento da missão da Igreja”, refere o DEC.

Pessoas concretas a falar

 

O padre Paulo Terroso, é membro da Comissão de Comunicação do Sínodo e integrou a equipa de 50 pessoas que redigiu o DEC. Em entrevista ao Departamento Arquidiocesano de Comunicação Social de Braga, o sacerdote português refere a experiência sinodal vivida nos 12 dias de trabalho em Frascati, perto de Roma, na reflexão e redação do texto. Assinala que sentiu a “serenidade” e a “suavidade” de “como Deus se faz sentir através do Espírito”. “Um sopro suave, uma brisa”, sublinha.

“O que senti e que experienciei, não só eu, mas todos nós que lá estivemos, até porque avaliamos o nosso trabalho, foi esta serenidade, esta suavidade. De facto, a forma como Deus se faz sentir através do seu Espírito é um sopro suave, é uma brisa. E quando nós chegamos ao fim, no dia 2 de outubro, trabalhamos mesmo depois do encontro com o Papa, até à noite, para além da alegria que sentimos, experienciamos essa serenidade, essa paz interior. No meu entendimento, uma confirmação, uma consolação do Espírito, como que a dizer: está feito o vosso trabalho”, assinala.

O padre Paulo Terroso salienta que na reflexão desenvolvida para a produção do documento, sentiu que se estava “a aproximar de um terreno sagrado” porque nas sínteses sinodais recebidas “eram pessoas concretas que nos estavam a falar”, afirma o sacerdote de Braga.

“De resto, era o entusiasmo e o sentido de responsabilidade que nós tínhamos de nos aproximarmos de um texto que nos tinha sido entregue pelo povo de Deus, que eram muito mais do que palavras. A determinado momento do nosso encontro, sentimos que eram pessoas concretas que nos estavam a falar. Daí a ideia de que também nos estávamos a aproximar de um terreno sagrado. Era necessário observar o cuidado, a delicadeza com que o devíamos fazer e, ao mesmo tempo, não defraudar, não as expectativas, mas a voz do Povo de Deus. Que este documento que agora é devolvido novamente às Igrejas locais, devolvido novamente ao Povo de Deus, seja a expressão daquilo que nos foi entregue e que tivemos o cuidado de fazer emergir nestas páginas. É sempre exigente para quem escreve, uma folha em branco pode causar algum medo, mas nós também não íamos escrever algo de novo! A criatividade era mais em termos de estilo, de modo, porque o conteúdo já nos tinha sido oferecido”, diz o padre Paulo Terroso.

Continuar a promover o diálogo

 

O DEC que prepara esta nova fase do Sínodo, regressa agora às dioceses para reflexão e análise. É proposto um período de diálogo para discernir questões, prioridades e apelos à ação que serão suporte das Assembleias Continentais que terão lugar em 2023.

O sacerdote português considera que a este documento poderá haver reações e tensões no interior da Igreja, mas salienta que isso pode ajudar a uma “discussão saudável”. “Temos que nos escutar uns aos outros. Temos que continuar a promover este diálogo”, declara o padre Paulo Terroso lembrando que o Papa Francisco prolongou o Sínodo até 2024, precisamente para permitir a escuta e o diálogo e “tempo para assimilar muito do que está a ser dito”.

“Haverá quem ache que fomos longe demais, ou que o documento deveria ter tido outra redação. Acredito e não me admiraria nada que houvesse, ou que haja essa reação. Haverá também quem pense que fomos demasiado cautelosos, pouco ousados, que não arriscamos em querer ir um pouco mais além, que deveríamos ir um pouco mais longe… Como digo, o documento que foi aprovado é o documento que todos ali presentes – não foi uma, duas, três, quatro pessoas, mas sim 50 – de um modo muito consciente entendem que é a expressão da voz do Povo de Deus. Agora, sim, as críticas vão acontecer, já estão a acontecer, até no período em que estávamos em Frascati. Como aconteceram em Portugal. São as tensões que não são negadas no DEC. Portanto, há uma consciência dessas tensões; aquilo que se espera é que não se tornem polarizações e não se tornem confronto, mas se tornem uma discussão saudável. Quem contesta o documento, quer num sentido, quer no outro, eu acredito genuinamente que esteja preocupado com a Igreja e em ser fiel a Jesus Cristo e ao seu Evangelho, não tenho dúvidas nenhumas disso. Não quero ter, pelo menos! E, portanto, temos que nos escutar uns aos outros. Temos que continuar a promover este diálogo. Se o Papa Francisco agora alarga a duas assembleias, não vai terminar só em 2023 a fase celebrativa, mas em outubro de 2024, é porque ele próprio tem a consciência da necessidade de amadurecermos, de caminharmos, de todos nós conseguirmos tempo para assimilar muito do que está a ser dito”, afirma o sacerdote.

Uma tenda alargada de encontro

 

Para esta nova fase do Sínodo é assumida como inspiração uma frase do profeta Isaías que leva a pensar “a Igreja como uma tenda”. A frase é: “Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas” (Is 42,2). Sobre esta frase inspiradora, o padre Paulo Terroso refere que a imagem da tenda permite tomar “consciência não só da fragilidade” da Igreja, mas “de como o local onde ela está montada não é o local definitivo”.

“A imagem da tenda fala-nos dessa tenda do povo de Deus que se reunia a caminho da terra prometida, quando estavam a sair do Egito… E é a tenda do encontro, é lá que se encontra a Arca da Aliança, que no fundo é a presença de Deus entre o povo. Como vem descrito no documento, essa imagem da tenda remete-nos, coloca-nos entre o exílio da Babilónia e a memória desse caminho que o Povo de Deus está a fazer em direção à Terra Prometida. A Igreja é peregrina, está a caminho. E está em constante movimento, não é estática. Para além de alargar a tenda para que mais pessoas possam caber nela, a tenda precisa de estar sob tensão para não cair, para que não seja levada pelo vento, por exemplo. Ao mesmo tempo, temos consciência não só da fragilidade, mas de como o local onde ela está montada não é o local definitivo. Ela é para ser levada e para estar a caminho. Portanto, em que é que vamos confiados neste caminho? Não numa fortaleza, não nas nossas extraordinárias Catedrais que aí estão e permanecerão, mas nesta Igreja que é conduzida pelo Espírito de Deus e é pobre de meios ao mesmo tempo. E não tem medo de ser assim, porque não está para se impor, está para servir, para servir o mundo! Portanto, o que a coloca como fonte de atração é esta simplicidade, é este despojamento e esta consciência de que a sua força está precisamente em Deus e na voz que nos chama”, afirma o padre Paulo Terroso.

O Documento para a Etapa Continental prepara a nova fase do processo sinodal. As assembleias continentais decorrem entre janeiro e março de 2023. Em outubro, em Roma, será a primeira sessão do Sínodo.

Laudetur Iesus Christus

 
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